sábado, 23 de junho de 2007

L'amour Indiscret - Apaixonei-me Por Uma Socialista.



Numa bela tarde, caminhava pelos arcos da lapa no Rio de Janeiro no intuito de conhecer esta região boêmia, conhecida como reduto musical do bom chorinho, de bares e botecos que reunem a nata intelectual carioca, além do submundo da prostituição. Confesso que nutria desejos de visitar este local que apresentava-me como profano.

Com o guia Rio nas mãos, direcionava-me para o restaurante "Nova Capela", o paraíso da "gastronomia intelectual" para comer um cabrito quando deparei-me com a visão do paraíso...Oh Glória, era uma morena de cabelos encaracolados, feições delicadas, óculos pequenos e redondos (parecidos com aqueles que John Lennon usava), top "tomara que caia" com o desenho del Che, axilas levemente mal depiladas, saia de estilo cigano ou indiano e tinha em suas mãos, o livro "Dez Dias que Abalaram o Mundo", de John Reed. Percebi que tratava-se de uma socialista.

Ao cruzar-nos na calçada, olhei-a de soslaio e pensei para comigo que uma investida seria inútil, pois como poderia ser possível esta bela criatura sair com um aristocrata? Como ela poderia passear num "BMW"? Conhecer de fato, o mundo que vivo, este mundico que ela combate e ainda culpa-nos pelos males sociais supostamente gerados pelo capitalismo?

Num ato de coragem, abordei-a. Disse que ficara encantado com sua beleza e curioso com o livro que tinha em mãos. Ela, simpática, agradeceu o elogio e mostrou-me sua leitura explicando a necessidade de conhecer mais sobre a revolução russa, pois estava preparando sua renúncia da vida urbana para ingressar como colaboradora à causa do "MST". Queridos irmãos, senti um frio na espinha. Sim, estava apaixonado por esta bela socialista, tanto que nem dei pelota para o que disse acerca dos sem-terras. Olhava fixamente para seus lábios finos, seu narizinho arribitado, para as duas pretuberâncias pontiagudas entre a foto del Che e alguns fios de cabelos que saíam de suas axilas.

Convidei-a para comer o cabrito, mas ela disse que estava compromissada , pois em poucas horas teria uma reunião na universidade com seus camaradas onde decidiriam ocupar a reitoria ou não. Fomos, então, tomar um café. Que tarde bestial!

Com medo de rejeição por ser um aristocrata, disse que era um camelô da rua uruguaiana no centro da cidade, vitimado pelo desemprego quando o precito FHC privatizou o "sistema telebrás". Com o dinheiro da indenização, abri uma barraquinha de CDs virgens naquela localidade. Ao dizer isso, percebi o olhar de compaixão da adorável socialista e logo após, deu-me um beijo na minha face sensivel. Neste momento tive uma sensação estranha no púbis, algo que acontecia muito na adolescência.

Como ela tinha compromisso, combinamos para o dia seguinte um encontro na localidade do baixo gávea, onde ela me apresentaria seus camaradas da universidade e depois, iríamos a uma festa do DCE. Asssutado por ter aceitado este convite bizarro, fui em busca de uma agência de automóveis para comprar um "fusca" ou "kombi" usada e velha, afinal, havia me tornado um reles camelô.

Pensando com meus botões, descobri que a magia do coletivismo pode expressar-se de forma capciosa.

No dia seguinte, Olivier, famoso chef de cuisine francês residente no Brasil, queria emprestar-me seu fusquinha 68 para que não gastasse meu dinheiro à toa. Agradeci a gentileza dizendo que precisava de um coche chocante, com ferrugem e estofado velho, pois mentira para minha doce socialista dizendo que era camelô. Um empregado de Olivier disse-me que poderia comprá-lo no bairro do Irajá ou se tivesse disposição, em Acari. Preferi Irajá pois soube que até Greta Garbo um dia, foi parar lá.

Com aquela corrente pra frente, fomos de metrô até Irajá para finalmente comprar o carro que daria-me mais veracidade perante mon amour. Fiquei pasmo ao perceber que há diversas revendedoras de veículos, não sabia que o subúrbio carioca era tão desenvolvido. Olhei, analisei, até que escolhi um Fiat 147 de cor bege. Ao entrar no veículo, estava perfeito: assentos de plástico preto imitando couro; câmbio cano largo e duro, rascante; e o interior cheirava a óleo queimado. Oh Glória, tudo conspirava para que se acabasse Hosannah Nas Alturas!

Feliz, gratifiquei o empregado de Olivier com uma nota de cem euros e voltei para o modesto hotel Copacabana Palace onde estava hospedado, via Av.Brasil, pois a linha vermelha, além rubra, lembrava-me o nefasto comando vermelho cuja origem não precisa ser citada para não atiçar meus desafetos. Ao chegar no hotel, todos estranharam meu Fiat 147. Acalmei dizendo que pretendia transformá-lo num poçante tunning para as minhas corridas em Le Mans. Um alívio tomou conta do ambiente.

Como estava perto das 18h, após banhar-me com sabonete phebo e perfumar-me com o popular desodorante avante, desci para ligar de orelhão para minha amada. Com voz de sono após um dia de reuniões sobre a estratégia de ocupação da reitoria de sua universidade, ela passou endereço do bar que estaria no baixo gávea dentro de uma hora e de lá, iríamos para uma festa do DCE. Para ficar mais entusiasmado, fiz tempo tomando um prosecco italiano no lobby do hotel e depois, lá fui eu no meu Fiat atrás da felicidade que só aquela socialista poderia dar-me.

Ao chegar no local, avistei minha deusa sentada na mesa do Hipódromo, principal bar do baixo gávea, onde dizem que foram creditadas grandes elucubrações culturais de diversas trupes que agitaram o cenário alternativo ao longo de anos, além de algumas revoluções de mesa de bar também...festivas, claro. Fui recebido com um sorriso por ela e apreensão por parte de seus camaradas. Como eles não me importavam, cumprimentei simpaticamente e sentei-me ao lado de mon amour. Lacerda, folclórico garçom deste lugar etílico logo trouxe-me um choppinho...porém, algo me incomodava.

Havia um rapaz, moreno-claro, de camisa social listrada, calça preta e cabelos negros lisos que encarava-me com ira. De alcunha Rique, não tolerava minha presença e logo veio questionar minha posição política. Disse-lhe que não tinha partido e tampouco ideologia definida, mas que simpatizava com o saudoso Leonel Brizola, homem de fibra, coerente e amigo dos camelôs. Como ví um decalque de Brizola em seu caderno, quis agradar e amansar o sujeito, mas em vão. Sentia que ele queria tirar-me do botequim e de minha amada. Mon amour logo interveio dizendo que eu seria de seu partido, o PT. Dei um salto da cadeira, derrubando o chopp em minha camisa. Para disfarçar, disse que havia sentido um gato ou rato passando por debaixo da mesa. Recuperado do susto, com sorriso amarelo de conformação, disse que interessava-me ingressar no partido e que faria de tudo por ela e seus companheiros em prol das conquistas sociais e pelo combate à fome. Feliz, ela deu-me outro beijo na minha bochecha que logo ativou aquela reação no púbis como já relatei acima.

Depois de escutar as discussões entre os petistas, psolistas, pedetistas, pcdobistas e pecebistas, finalmente decidiram ir para festa do tal DCE. Entretanto, notei que não havia nenhum representante do PSTU na mesa, o que me deixou intrigado e curioso. Havia acontecido algum sectarismo? Se houve, quem o praticou? Não perguntei para não criar confusão.

Mon amour perguntou se tinha vindo de carro, pois o local da festa não passa condução fácil e os taxistas não gostavam muito de ir até lá. Apreensivo, disse que sim, mostrei meu Fiat e notei simplicidade em seu olhar ao ver meu coche.

Logo veio a revelação: a festa seria na favela da Rocinha. Gelei, mas munido de coragem disse - "Tudo bem, tô na pista pra negócio".

Ao chegarmos na Rocinha fomos recepcionados por um integrante da associação de moradores desta favela, um rapaz simpático que usava uma boina verde-oliva com uma pequena estrela vermelha, parecida com aquelas que vendem em Cuba para turistas. Curioso, perguntei onde ele havia comprado. Disse-me que ganhou de um amigo colombiano. Fiquei a imaginar coisas, mas relevei porque queria ir logo para festa e depois convidar mon amour para um um rolé como se diz na gíria carioca, expressão que lembra o velho e bom francês.

Depois de subir centenas de degraus e escutar insuportavelmente todo tipo de música de baixo calão intitulado "proibidão", o rapaz da boina nos deixou ali e pediu que aguardássemos que a qualquer momento alguém iria nos recepcionar e levar-nos até o evento. A partir dali, ele não poderia mais nos acompanhar. Em poucos minutos, eis que aparece um menino menor de idade com um fuzil de assalto A-91 dizendo - "Tio e tia, tô na fita pra levar vocês pra festa, vira di costas que a gente vai revistá, num si mexe! Si mexé leva azeitona.". Senti uma mão pesada (e boba) passando pelo meu corpo delicado e sem cerimônia, o safado ousou tocar na minha popota o que me fez dar um salto, parecido com outro que dei ao fazer exame da próstata. Humilhado e mon amour tranqüila, vimos que era um negão enorme parecido com o rapper 50 Cent que havia nos revistado. Quando olhei para o sujeito, foi impossível segurar a flatulência. Os olhos de mon amour brilharam, o que me causou um ciúme indescritível, mas como estava com medo, achei melhor esquecer.

Na quadra de esportes da comunidade, o "funk proibidão" rolava solto, todos faziam coreografias estranhas e simulavam ato sexual. Mon amour correu para onde estavam seus companheiros de DCE e feliz gritava: "Partido, Partido dos Trabalhadores!" Cheguei a levantar a mão e gritar, mas ao fazer isso todos se calaram e olharam-me, deixando-me constrangido. Perguntei a mon amour o porquê daquela festa em plena favela e a presença de homens armados. Ela respondeu-me que era necessário conhecer a realidade da comunidade e posteriormente levar os programas sociais como o bolsa-família para os mais necessitados. Sobre os traficantes, eles tiveram que pedir autorização para realizar a festa porque são eles que mandam na "parada".

Como um passe de mágica, ecoou a música "All Along The Watchtower" de Jimi Hendrix e a quadra lotou com os estudantes do DCE dançando tal e qual se via no músical Hair, mãos levantadas, alguns girando como era visto em "Terra em Transe" de Glauber Rocha, enfim, fiquei assistindo o espetáculo dantesco que se armara na minha frente. Como todos dançavam, tentei puxar conversa com o negão que parecia o 50 Cent que observava fumando um cigarro que parecia de palha. Ao perguntar sobre o que estava achando da festa, ele disse - "Cala boca véio!" Imediatamente, fi-lo.

Encostado no canto, desiludido, mon amour aproximou-se perguntando sobre o que estava acontecendo. Com uma vontade tremenda de dizer a verdade, respondi que tudo ia bem, apenas sentia-me cansado. Ela sentou ao meu lado e encostou sua cabeça na minha e logo deixei de ficar xoxo. Um sentimento libidinoso começou a tomar conta de minha mente, corpo e alma, um calor acima dos quarentas graus deixou-me latejante, senti-me jovem, logo percebi que não precisaria do amigo azul, a pílula do amor. Como alegria de rico também dura pouco, na hora que ia beijar mon amour, depois de carícias em seus cabelos e cosquinha nas axilas para elevar a excitação, eis que aparece o empata-phoda do Rique, sim, aquele brizolista que desejava-me retirar da trupe esquerdista. Este sujeito irritante que julga-se propedeuta em política esquerdista, estava querendo tirar mon amour para dançar. Por educação, ela aceitou e vi o sorriso debochado de Rique para comigo. O negão que apelidei de 50 Cent olhou para mim e disse rindo: - "Perdeu". Resmunguei um palavrão em francês que provocou um olhar repreensivo do cinquentinha.

Cansado e disposto a tomar rédia da situação, levantei-me da cadeira e fui em direção a pista de dança. Tomei mon amour de Rique e coloquei-a ao meu lado e disse: "Bijou, em nome do exército vermelho que domina este corpo agora viril, vamos dar um rolé no meu 147 agora! Se este brizolista inisitir em perseguir-me, se quiser vir que venha, eu apresentarei batalha!". Mon amour me deu um beijo que lembrava aquele dado entre um marinheiro e uma mulher na Times Square em Nova Iorque para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial, com direito a levantada de pezinho e tudo! 50 cent olhou para o Rique com olhar de desprezo dando a entender que ele era um mané.

Descemos as escadarias da Rocinha saltitantes até meu veículo. Ao chegarmos no Recreio dos Bandeirantes para conversar, mon amour questionou minha posição política, pois sabia que eu não era socialista. Surpreso, disse como ela poderia perguntar tal injúria. Mon amour disse que havia me visto chegar de "BMW" na lapa e que minha roupa era muito elegante para um camelô e mesmo assim, achou que poderia converter-me à causa socialista. Tentei dizer que o carro de luxo era de um amigo rico e que as roupas era imitações, pirataria chinesa, mas ela disse que estava na hora de dizer a verdade. Confessei que era um aristocrata de Toulouse, mas que havia apaixonado-me por ela e que aceitaria participar dos movimentos coletivistas por sua causa. Sensibilizada, disse-me que gostava de mim, mas que não poderia aceitar-me participando de tais eventos porque percebera meu desconforto no bar e na festa. Pediu para calar-me e tirou sua camisa onde pude ver as axilas desenhadas no formato de coração que fizera exatamente para agradar-me. Coloquei no toca-fitas do carro, a melancólica música "Non, Je Ne Regrete Rien" cantada por Cássia Eller e com uma força superior ao tsunami, não pude segurar a sensação no púbis e o resto desta singela estória, encerra aqui, pois não seria elegante revelar os segredos da alcova em respeito a mon amour que depois deste dia, nunca mais vi. Seguramente por termos vidas e caminhos opostos.

Oh mon Dieu, que saudades tenho da minha doce e meiga socialista. Por um momento, quase me entreguei à causa coletivista.

Hosannah Nas Alturas!

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9 Comentários:

Às 24 de junho de 2007 às 09:03 , Anonymous Anônimo disse...

Ari, adorei o final da história rs

 
Às 26 de junho de 2007 às 17:15 , Anonymous Anônimo disse...

Maravilhoso!

 
Às 14 de abril de 2009 às 15:58 , Anonymous JOTAVE disse...

Texto muito engraçado e inteligente!

 
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