sábado, 14 de julho de 2007

Testemunhas de Jeová, a História de Alex.



Essa a história de Alexsandro, natural de Pelotas, hoje cidadão ilustre da Carolina do Sul, Estados Unidos. Seus avós eram pobres comerciantes da cidade americana de São Francisco e migraram para o Brasil em busca de fortuna. Chegaram na região do Paraná para trabalharem com café e logo prosperaram. Seus filhos decidiram expandir os negócios da família rumo ao Paraná, estabelecendo relações comerciais com gaúchos que vendiam charque para a então capital federal, o Rio de Janeiro. Astolfa, a mãe de Alexsandro, tomou a frente do empreendimento demonstrando grande incompetência, fato que a aproximou bastante dos ideais subversivos feministas que pipocavam na época do glorioso regime militar de Castello Branco. A promiscuidade de ideais afastou Astolfa do bom caminho da fé que seus pais, avós de Alexsandro, defendiam com vigor: eram presbiterianos e sua filha era atéia e nova convertida à heresia da igualdade sexual.

No meio da complicadíssima situação financeira que a firma familiar sofria, os vendedores de charque resolveram suspender as transações enquanto a dívida da empresa não fosse paga. O prejuízo era enorme, a triste contabilidade reforçava o remorso dos avós de Alexsandro em contratar sua filha. Estavam convencidos que as mulheres não têm tino para os negócios, mas Astolfa negava culpa, jogava seus erros nas costas do “sistema” ao mesmo tempo em que esperava um milagre para salva-la da demissão iminente. Foi aí que conheceu Josenaldo, sócio de um truste gaúcho de Porto Alegre. Todos sabiam que a aparência de Astolfa era horrível: falava grosso, tinha mau-hálito, era grande, feia e com buço digno de um Nietzche. Josenaldo, por sua vez, era delicado, pele de bebê, olhos claros, lábios e voz fina e trêmula. Não demorou a que ambos se conhecessem e dali crescesse um sentimento forte de amor de um homem por uma mulher, de Astolfa e Josenaldo respectivamente. Como este último era depositário da confiança dos acionistas, propôs a sua parceira a fusão das empresas em um grande conglomerado de frigoríficos na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Aqui começa nossa história.

Alexsandro, doravante Alex, nasceu com saúde e sempre recebera a atenção dos pais. Era uma criança aberta, tudo compartilhava, tudo dava a seus coleguinhas e amigos desde a mais tenra infância. Pouco campestre, á medida que crescia e virava um rapaz deixava constantemente o isolamento da fazenda onde eram mantidos os animais para o abate da carne, para aventurar-se na área urbana de Pelotas. O animalzinho que ele mais gostava era um cachorrão fila, procriador, companheiro inseparável do então adolescente sulista. Devemos recordar ao leitor que os pais do nosso protagonista eram ateus e contrários à ordem cristã e à manifestação religiosa. Por causa disso, achavam ótimo a assimilação de hábitos terríveis, desagregadores, comumente não aceitos pelos conservadores, como a perda da virgindade feminina antes do casamento, o uso de roupas extravagantes, a pornografia e o rock. Alex é vítima deste ambiente horrendo imposto por Astolfa e Josenaldo, porém, sobretudo, é vítima de suas próprias escolhas. Tudo começou aos seis anos de idade, quando brincava com as bonecas de seu melhor amigo e pior foi quando começou a brincar de médico com os rapazes da vizinhança. Não obstante, interessara pela ideologia feminista da mãe e comportava-se delicadamente como o pai.

Aos 17 anos passara com louvor no exame vestibular, prestara corte e costura com ênfase em decoração. Na faculdade contaminou-se com ideais esquerdistas mas na prática Alex era uma pessoa complexada e infeliz, um ser triste que descontava na sociedade suas próprias frustrações sexuais. Um belo dia, participando de uma passeata gay, encontrara com um senhor de idade, sisudo e com cara de poucos amigos. O motivo é desconhecido, o que se sabe é que nosso jovem apaixonara-se por aquele ancião e não tardou a descobrir o telefone daquele homem misterioso. Dias depois da manifestação, Alex juntou toda a coragem e ligou para o velho, qual foi a surpresa quando a atendente disse: Companhia Testemunhas de Jeová, pois não? Aquilo foi estarrecedor e inesperado, um choque para alguém que não ouvia um nome divino há anos. Infelizmente não deu ouvidos à voz do outro lado da linha e resolveu desligar o telefone. Raivoso, tirou sua agenda da Hello Kitty do armário e pôs-se a convidar seus parceiros para o que demoninara A Grande Orgia. O festival de fornicações tinha iniciado no último dia de dezembro, perto do Reveillon de 2005, ano da Graça. Satisfeito sexualmente, mas derrotado espiritualmente, a imagem do ancião retornava à mente de Alex, o mantinha acordado, perplexo. Resolvera abandonar a casa e andar pelas ruas de Pelotas.

Todos os pensamentos vinham a ele, pensava em tudo que fizera desde então concluindo que sua vida não tinha sentido. Cabisbaixo, o rapaz chorava e a idéia de suicídio lhe era freqüente. De repente, viu que não estava sozinho, um homem senil colocara as mãos sobre seu ombro, entregando-lhe um cartão com a seguinte mensagem: Feliz 2005. Alex refletiu sobre o fato e decidido, alojou-se num hotel fora de Pelotas. Como algo tão puro conseguiu afastar a desesperança? Simples, o 2005 era o sufixo do telefone do velho o qual Alex ligara pouco após a passeata. Viu que não se tratava de uma coincidência, pegou o táxi e saiu a procura do dono do cartão, mas as ruas estavam desertas. Estafado, relaxou e dormiu na Praia do Cassino, famosa pelos marimbondos. No sonho, uma voz preenchia-lhe as lacunas do ouvido: Alex, não te esqueças quem te criaste! Oh, este que vos narra está deveras emocionado, leitores. A mudança foi da água para o vinho. No dia seguinte, na faculdade, Alex apareceu todo borrado mas com um ar de dignidade insuperável. Despediu-se de seus ex-parceiros do sexo, tomou o primeiro avião rumo à América com escala em São Francisco. Naquele local, deixou uma coroa de flores simbolizando seu rompimento com o homossexualismo. Voou novamente, desta vez para a Carolina do Norte e abriu-se de corpo e alma à religião: tornou-se Testemunha de Jeová.

Hoje Alex vai de porta em porta levando a palavra de Deus e agradecendo ao Mestre por sua conversão. A bebida e o crack fazem parte do passado, a sodomia é história para sempre enterrada. Casou-se, teve filhos e entrou para a Ordem do Rifle. Que bênção. Esta foi a vida de Alexsandro, e nos mostra que a renovação dos anos è uma esperança à humanidade perdida e afogada em seus pecados.

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